domingo, 13 de fevereiro de 2005

Tecnologia de informação na economia da nova sociedade. Demanda de bens e serviços

É reconhecido que o sistema econômico globalizado vigente é multidimensional (econômico, financeiro, cultural e político). Fundamentalmente a globalização é a aceleração do processo de mercado, viabilizado pelos avanços obtidos nas tecnologias de transporte, informação e comunicação ao longo dos últimos 50 anos. Muito desta característica se deve à TIC, principalmente à comunicação possível entre sistemas de informação (financeiros) de qualquer parte do mundo via satélite, e à Internet (atuante tanto no sistema financeiro, quanto cultural). Apresenta como característica econômica a generalização, em âmbito mundial, da produção e do comércio, tendo o processo assumido proporções maiores com a desregulamentação financeira nas últimas décadas.

Conclui-se que a TIC tem sido usada pelos detentores do capital para aumentá-lo de forma relativamente simples e rápida. No entanto a TIC pode ser usada pelo outro lado do mercado, os detentores do trabalho (forças produtivas). A forma como isso pode ocorrer será abordada em vários artigos aqui iniciando por este. Um dos primeiros contextos onde a TIC pode ser fortemente impulsionadora de novos conceitos é em relação ao mercado. Mercado é o contexto onde compradores e vendedores realizam transações. Diz-se que o mercado é a interação entre as forças de oferta e procura. Bens e fatores produzidos são oferecidos (oferta) e adquiridos (procura ou demanda) no mercado. Os bens são produzidos através da combinação de fatores produtivos. Os bens são remunerados por seus preços, e os fatores produtivos por suas rendas. Os recursos utilizados para a produção dos bens - os fatores de produção, são limitados ou escassos.

Este é justamente o problema da Economia: solucionar a equação de recursos limitados para atender as necessidades humanas (bens) que muitas vezes consideradas ilimitadas. Os fatores produtivos são os elementos necessários ao processo produtivo dos bens (materiais): terra, trabalho e capital (para os serviços, apenas trabalho e capital). No sistema capitalista os fatores produtivos são remunerados pela sua renda. As famílias detêm os fatores produtivos e recebem esta renda conforme o tipo de fator produtivo: salários, se trabalhadores; renda da terra, se proprietários; lucros, se proprietários de empresas; e juros, se capitalistas que empretam dinheiro. No mercado atuam os agentes econômicos: famílias, empresas e governo. O governo é aqui incluído porque recolhe impostos das famílias e empresas para prestar serviços públicos. (como pode-se notar, parece simples, mas pelo excesso de negritos, não será assim tão simples!)

O desequilíbrio entre a oferta e demanda é materializado no preço do bem ou serviço. Os economistas consideram que num mercado onde prevalece a livre concorrência, este desequilíbrio é temporário. A força do mercado fará o preço cair se houver excesso de oferta, e caindo o preço, os vendedores irão ofertar menos e os compradores comprar mais, tendendo a um preço que equilibre a procura e a oferta. Da mesma forma a tendência ao equilíbrio existirá se houver escassez de um bem ou serviço fazendo o preço subir.

Adam Smith escreveu (A Riqueza das Nações, Livro I, Cap. 7): "Quando a quantidade posta no mercado é a estritamente necessária para suprir a demanda efetiva, e não mais, o preço de mercado corresponderá exatamente, ou tanto quanto se possa estimar, ao preço natural. A esse preço, é possível dispor de toda a quantidade da mercadoria em mãos, o que não aconteceria a um preço mais elevado".

O mercado de trabalho teóricamente também se comporta desta forma pela interação entre as forças de oferta e demanda de trabalho. As famílias são detentoras dos fatores de produção e, portanto, compõem o lado da oferta de trabalho. As empresas por precisarem dos fatores de produção (cada vez menos!) para produzir (cada vez mais!), demandam trabalho e, portanto, compõem o lado da demanda. Não pode-se confundir trabalho com emprego, neste caso as coisas se invertem, quem oferece emprego são as empresas.

Não entraremos ainda na discussão das relações entre demanda e oferta e os fatores que determinam suas variações, e por conseqüência o comportamento dos preços no mercado de bens, e das relações entre demanda de trabalho e os salários no mercado de trabalho.

Sobre o trabalho Adam Smith escreveu (A Riqueza das Nações, Livro I, Cap. 8): "O produto do trabalho constitui a recompensa natural ou o salário do trabalho. No estado natural de coisas que precede tanto a apropriação da terra como a acumulação de capital, todo o produto do trabalho pertence ao trabalhador. Não há nem proprietário nem patrão com quem deva dividi-lo.
Houvesse tal estado inicial persistido, os salários do trabalho teriam aumentado junto com todos os progressos das forças produtivas que a divisão do trabalho originou. Todas as coisas se teriam tornado, gradualmente, mais baratas. Teriam sido produzidas por uma quantidade menor de trabalho e teriam sido igualmente compradas com o produto de uma quantidade menor de trabalho, pois nesse estado de coisas as mercadorias produzidas por iguais quantidades de trabalho seriam naturalmente trocadas uma pelas outras. Mas, embora todas as coisas houvessem na realizade, se tornado mais baratas, muitas delas poderiam aparentemente se tornar mais caras do que antes, ou poderiam ser trocadas por uma quantidade maior do que outras mercadorias". Isto por causa das diferenças relativas no aumento na força produtiva das atividades (produtividade). Adam Smith coloca aqui um exemplo que não acho necessário reproduzir agora.

No entanto, para tristeza de muitos, Adam Smith não seguiu adiante o seu raciocínio nesta situação do estado natural de coisas, e considerou "despropositado investigar em profundidade seus efeitos sobre os salários, pois a apropriação de terras e a acumulação de capital já havia muito tempo que existiam" (e portanto, não seria ele quem mudaria este novo estado de coisas!).:-(

Pode-se tirar do acima exposto que a estimativa mais exata possível da demanda efetiva pode manter o preço do bem no seu patamar natural. :-)

Essa demanda pode ser estimada por um sistema de informação que atinja todo o mercado (local, regional, nacional ou mundial) do bem ou serviço. Esse sistema de informação é com certeza um sistema orientado para o consumidor do bem ou serviço (comprador ou usuário), e deve ser utilizado por todas as empresas que oferecem o bem ou serviço naquele mercado. O sistema terá todos os consumidores e informações de suas demanda (e aqueles detém o poder sobre estas). Para que este sistema de informação possa ser usado é necessário que não haja concorrência entre as empresas que atuam naquele mercado, mas uma regulação da oferta para suprir, por exemplo, diferentes niveis de qualidade, eventuais quebras por motivos naturais, fatalidades ou outros, para evitar o desabastecimento ou o descontrole da procura.

Assim a demanda efetiva estimada é a quantidade central, em torno da qual a produção de todos os bens e serviços gravitam continuamente.

As flutuações para baixo desta quantidade que não possam ser supridas recaem sobre todos os consumidores, com o racionamento temporário (seletivo ou uniforme). Se esta situação se perdurar, deverá haver transferência de pessoas (trabalhadores) de outras para esta produção, e, se for o caso, formação de novas empresas. As flutuações para cima desta quantidade, além do estoque de segurança, recai sobre o trabalho para sua produção, o qual deve ser diminuído, reduzindo as horas trabalhadas. Se esta situação se perdurar, deverá haver redistribuição de pessoas (trabalhadores) desta produção para outras.

Todas estas informações de demanda, oferta, capacidade produtiva e produção dos bens é gerenciada por um único sistema de informação. As informações deste sistema são transparentes para famílias e empresas. (Vamos tratar do sigilo de informação pelas empresas futuramente).

A filosofia principal como base desta proposta é que a informação é o verdadeiro bem da nova sociedade, sua riqueza, seu mecanismo para regulação, e tudo se faz para manter esse estado de coisas.

Vou abordar em próximos artigos os impactos desta proposta em situações reais atuais como exemplo, e sobre como e onde aplicar este conceito em alguns mercados atuais (no plural para fazer diferenciação entre as diversas formas de regulação entre oferta e demanda para os bens e serviços atualmente existentes - trataremos disso mais tarde).

Notas explicativas

  • Todos os artigos a serem escritos neste espaço precisarão de inúmeras revisões, pois resultam de um punhado bem grande de anotações desconexas sobre os temas centrais (Economia, Tecnologia de Informação e Sociedade) baseado na leitura de vários autores e de um esforço iniciante de organização destas anotações;
  • Estes artigos tem por primeiro objetivo organizar as idéias e em seguida a elaboração de propostas para a construção de um sistema econômico fortemente apoiado na tecnologia de informação para uma nova sociedade
  • Como tudo isto será organizado? Ainda não sei, vamos avançar mais um pouco e descobrir.
  • Estes artigos não resultam de nenhuma linha de pesquisa minha ou de qualquer outra pessoa em nenhum órgão privado, público, ONG ou OSCIP.
  • Não citarei todos os autores nos quais me baseio para escrever os artigos, pois estes estão saindo de forma um pouco livre. Algumas citações serão necessárias mais para indicação de leitura para os leitores deste blog (sei que existem, embora ainda não os conheça! Usem o livro de visitas ;-)). Ainda vou colocar uma lista de bibliografia detalhada.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2005

Manuel Castells no FSM 2005

O texto "INNOVACION, LIBERTAD Y PODER EN LA ERA DE LA INFORMACION" que foi o guia da apresentação de Manuel Castells no Fórum Social Mundial 2005 pode ser lido no sítio do PSL Brasil: http://www.softwarelivre.org/news/3635. Independente da discussão sobre software livre, o final do texto é importante para reflexão (Liberdade, Sociedade e Tecnologia). Castells é o autor da trilogia A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura. Também podem ser lidos no PSL Brasil artigos sobre o debate com Castells e com John Perry Barlow, ex-letrista do Grateful Dead e co-fundador do Electronic Frontier Foundation.

domingo, 6 de fevereiro de 2005

Iniciando

Vou escrever aqui sobre Economia, Tecnologia de Informação e a Nova Sociedade. Como isso começou?

Começou pelos meus conhecimentos de vinte e sete anos em Tecnologia de Informação (muitos dos quais já se foram junto com os espécimes de computador que morreram) e a certeza de que a nova sociedade deve usar inteligentemente os recursos de TI e Internet. Muitas pessoas já o fazem, e também muitas empresas, mas poderiam fazer mais e melhor, como no caso Orkut. Junto a minha visão de que os jovens entre 18 e 25 anos (entre os quais eu me incluo pois nasci, cresci e envelheci com o rock'n roll, ou seja, não envelheci quase nada!) viciados em Internet têm uma visão diferenciada do sistema ao qual estamos quase amarrados (sistema social e econômico). Tive esta certeza ao conhecer um grupo de jovens estudantes da UFPR que criaram o projeto Universitário Solidário (procure no Orkut). Juntando as duas certezas conclui que estes jovens podem fazer alguma coisa para a nova sociedade. É uma utopia? Não. Projetar e realizar um novo sistema social é simplesmente um dever . O próximo passo foi entender mais de economia, que sempre passou longe de mim (mesmo porque não sou nem um pouco econômico, quando tenho dinheiro na mão!).

Então nestas férias li mais de 10 livros sobre economia, economia solidária, capitalismo, fim do capitalismo, emprego, fim do emprego, trabalho, fim do trabalho, reli outros tantos ( Fritjof Capra e Alvin Toffler - o da Terceira Onda, entre outros) e li muitas páginas na Internet (ligadas ao Fórum Social Mundial, Fórum Econômico Mundial - Davos, órgãos da ONU para o comércio e economia, e centros de estudos de economia - como tem no Brasil!). Como decidi não abrir o correio eletrônico por 30 dias, não usei o computador, então escrevi mais de 200 páginas num fichário (que eu conhecia por arquivo).

Terminadas as férias voltei a Curitiba - eu estava em Cascavel, quase na costa oeste do Paraná, apresentei para alguns desenvolvedores (de software) de nosso grupo de pesquisa na UFPR a proposta de desenvolver um piloto do que poderá se tornar o sistema de informações da nova sociedade. Parece que o pessoal se empolgou, mas não sei, pois a tarefa é complexa e ainda não tenho idéia exata do que é esse SI e nem o que incluir neste piloto. Vamos aguardar!

O último passo é organizar todas as partes em torno da idéia principal: economia, tecnologia de informação e a nova sociedade. Como não poderia deixar de ser, na nova sociedade, eu teria que fazer isso na Internet de forma aberta e livre. Estou iniciando agora neste blog (embora não seja tão aberto; o ideal seria um sítio wiki ou twiki, mas não encontrei nenhum em que eu pudesse me engajar de imediato, então vamos aqui mesmo por enquanto, pois quem vai escrever vou ser eu mesmo, pelo menos por algum tempo).

Seja bem-vindo ao blog.