Comprometimento. Esta é a palavra chave para que tenhamos uma economia solidária alternativa à situação econômica mundial que esta aí. Nos dias de hoje, já não basta apenas promover ações solidárias, sociais ou humanitárias, é preciso ir mais longe. Comprometimento que vai além do simples fazer.
Ao longo dos últimos anos muitas pessoas têm mostrado as fragilidades do sistema econômico mundial vigente e a forma como poucos grupos de pessoas tem se beneficiado deste sistema. Porém, poucas ações têm se expandido além de um círculo de pessoas engajadas com estas novas propostas. É um círculo grande, mas que ainda não atingiu a massa de pessoas que precisaria. E confrontando mecanismos mundiais de decisão (como o Fórum de Davos), o que se tem conseguido é mostrar ao mundo como pode ser melhor o futuro. Estas ações e demonstrações são importantes porque trazem cada vez mais pessoas para esta discussão. Mas a distância entre as propostas e as políticas econômicas - em qualquer nível, ainda é grande. Um elemento que tem sido importante nestas ações é a Internet, pois tem permitido a grupos de todo o mundo discutir e planejar suas ações, como tem sido no caso do Fórum Mundial Social. Mas a Internet pode ser um elemento chave também para a mudança das relações econômicas.
A Internet é um meio de comunicação que se impôs como principal elo de relações entre pessoas que estão distantes umas das outras. Ou mesmo entre pessoas que estão próximas e que estão se comunicando, e trocando informações, a todo o tempo (online, instantaneamente). Para muitos (e ponha muitos nisso), essa comunicação freqüente, instantânea mesmo, já se tornou um hábito ou um vício. Este hábito está passando para outras tarefas comuns no dia a dia, tais como consultar a conta bancária (eu não faço), fazer alguns tipos de compras (eu faço), ler notícias e mesmo os jornais do dia (eu faço), entre outras. Então, podemos utilizar este hábito das pessoas para oferecer-lhes um novo serviço na Internet voltado para as relações solidárias, que pode facilmente (mas lentamente) tornar-se uma nova forma de executar transações econômicas, sem os malefícios do sistema atual.
Ampliar as formas de colaboração solidária utilizando a Internet oferecendo ferramentas para o desenvolvimento de uma economia solidária de fato é uma proposta real e viável.
Um dos possíveis objetivos desta proposta seria criar ferramentas de relações (transações) econômicas solidárias na Internet, de forma similar aos sistemas de transações financeiras bancários, nacionais ou de investimentos (globais). Esta proposta alia três ações:
- conectar as pessoas;
- oferecer ferramentas para que as relações econômicas solidárias sejam registradas e disseminadas;
- criar as bases técnicas para a expansão gradativa deste serviço para todas as atividades econômicas.
A primeira ação (conectar as pessoas) já é largamente disponível na Internet (Orkut, Multiply, Yahoo, MSN, etc.) e com muitos adeptos. Não vamos aqui discutir o que as pessoas fazem com estas ferramentas, mas o fato importante é a familiaridade que cada vez mais pessoas têm com estes ambientes. Um sistema de relações solidárias deve adotar formas de comunicação e relacionamento entre pessoas como as destes sistemas.
A segunda ação (oferecer ferramentas para que as relações econômicas solidárias sejam registradas e disseminadas) também é bastante difundida na Internet, mas é desenvolvida por empresas e associacoes para seu próprios fins e benefícios, tais como os bancos, as administradoras de cartão de crédito, as bolsas de valores, as bolsas de mercadorias e futuros, os pregões de letras e bônus nacionais, o comércio eletrônico (empresas para pessoas, empresas para empresas e outros). Ou seja, a tecnologia existe, os sistemas já são utilizados por muitas pessoas, mas os objetivos econômicos destes sistemas nem sempre beneficiam a maioria da população e em muitos casos nem seus próprios usuários, apenas as empresas que os possuem.
A terceira ação (criar as bases técnicas para a expansão gradativa deste serviço para todas as atividades econômicas) é ação integradora, e nova, para as anteriores possam ser utilizadas em novas bases. Não conheço uma receita pronta de como fazer isso.
Com estas ações estaremos permitindo que as pessoas possam mudar sua forma de relações econômicas conciliando sua visão de sociedade, suas necessidades e também seus interesses econômicos mais imediatos. Como implantar uma proposta como essa? Ainda não há respostas, mas o que posso sugerir é que qualquer que seja o processo, este tem que ser gradativo, lento, tecnicamente consistente, livre e aberto. As pessoas devem usar seu livre arbítrio para decidir pelo uso deste tipo de serviço.
O próprio desenvolvimento das ferramentas de tecnologia de informação, e os programas resultantes, também devem ser livres e abertos, e com a sua sustentação econômica também baseada em relações solidárias. Utilizando as metodologias de desenvolvimento em uso pelos adeptos do software livre, tanto o desenvolvimento, quanto as necessidades e especificações destes programas podem ser gradativamente discutidas, acompanhando as discussões teóricas e conceituais que formarão a base deste novo sistema.
Vale lembrar que o sistema econômico vigente demorou mais de 100 anos para ser consolidado, ao longo da revolução industrial que organizou o trabalho e as empresas, permitindo posteriormente o desenvolvimento das formas para utilizar o capital resultante da atuação das empresas (o lucro), e que culminou no sistema que aí está. Embora pudesse ter seguido outros rumos - mas isto seria outra história, e não a nossa!
Este texto foi escrito para a seção de artigos do sítio Soy loco por ti - América Latina Unida!. Prestigiem esta causa! Foi escrito em uma única vez, com uma uma única revisão, portanto sujeito a muitas críticas e sugestões que serão bem vindas.
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